quarta-feira, 10 de agosto de 2011

ESCOLA DÁ AULA SOBRE VIOLÊNCIA.

PARTE 1

Há poucos dias soube que uma escola estaria redestribuindo os alunos do ensino fundamental de um mesmo ano em duas salas de aula. O critério a ser utilizado para redestribuição seriam as médias escolares. Então teríamos a classe dos "super poderosos" com suas super médias calóricas e a mesma classe teria sua representação menos robusta, menos favorecida em termos de notas. 

Quando perguntei sobre que alegação a coordenação apresentava  para essa patética classificação, fiquei mais abismada ainda. Segundo meu interlocutor seria porque os professores reclamavam muito do comportamento dos "potencialmente desnutridos educacionais". Afinal de contas, os pobres professores tinham que se desgastar  em demasia para dar explicações infindáveis aqueles que não conseguiam acompanhar os conteúdos trabalhados e rapidamente absorvidos pelos "super poderosos".

É inconcebível que esse tipo de conduta se estabeleça em uma instituição de ensino sem que pensemos nas consequências, de infinitas proporções, que essa ação poderá causar entre os alunos, professores e toda comunidade escolar. VIOLÊNCIA ?

Quando identificamos na conduta das crianças e jovens um comportamento discriminatório (absorvido nas relações sociais, geralmente apreendidas na família), achamos que a escola deve atuar de forma mais contundente de modo a pacificar e minorar ou mesmo eliminar de vez esses comportamentos. Agora o que dizer quando a própria escola é descriminatória e rotula seus alunos porque é mais fácil fazê-lo assim. É mais fácil "resolver" o problema empurrando a sujeira pra debaixo do tapete. É mais fácil conceber a aprendizagem como produto que encontramos nas prateleiras dos super mercados. Compramos, nos apropriamos e pronto!

Aprendizagem é processo. Tem ritmo próprio. Alimenta-se de estimulo, motivação, flexibilidade, possibilidades, planejamento, compromisso, diálogo, significação e de uma série de outros fatores estabelecidos pelo contexto cultural, social, econômico, político e tantos outros elementos existentes na realidade de cada um de nós. 

O que vocês acham dessa história que acabei de contar? É real? É ficção? 

Aguardo suas críticas e sugestões. Poste um comentário. 

Participe!










sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O DOUTOR E O ANALFABETO

          Foi num rio qualquer do Estado do Pará, Amazônia, Brasil. Pode ter sido no Guamá, no Tapajós, no Moju, no Acará, no Araguaia, no Tocantins, no Xingu, no Trombetas, no próprio Amazonas... É... pode ter sido em qualquer um, não faz diferença. O que conta é a história em sí.

          Era um doutor, destes metidos a sebo, que, por ser doutor, pensa que tem o rei na barriga e gosta de pisar nos mais humildes.

          Estava na margem de um rio paraense, desejando passar para a outra margem. Acercou-se de um cabloco e falou:

          - Caboclo, eu quero passar para a outra margem. Qual é a tua canoa?

           Nem ao menos perguntou se o caboclo podia ou não atravessá-lo.

          Falou imperativamente, e o pobre caboclo indicou, com um trejeito na boca, a direção onde estava sua montaria, na qual o doutor embarcou.

          A bem da verdade, não sei se o doutor era de curar, de leis ou de construir.  Sei apenas que era um doutor metido a besta e que gostava de humilhar os outros.

           Mal a pequena embarcação desatracou, começou a espicaçar o pobre caboclo.

           Ele, o doutor, sabia muito bem que o caboclo não tinha instrução.

           Mesmo assim, falou:

          - Caboclo, tu és formado em quê?

          - Cumentão, dotô?  Formado? o que é isto?

           - Que Faculdade tu cursaste? 

                - Ara, mas, doutô! Eu não cursei Facurdade nenhuma. Mas, ara ...

           - Então, perdeste dez anos da tua vida. Mas fizeste o segundo grau, não? 

           - Mas quar dotô? Não fiz não,  isso não tem pros meus lados...

           - Perdeste mais dez anos de tua vida. Pelo menos cursaste o primeiro grau?

          - Não seu dotô. Mas quando,  antão?
         
             - Perdeste mais dez anos de tua vida...

           O caboclo fez as contas - isto ele sabia fazer - e viu que já tinha perdido trinta anos da vida dele...

                  Olhava o doutor com admiração, mas ao mesmo tempo já chateado de tanto estar perdendo anos de sua vida por não ter estudado ... E o doutor, implacável fez ainda mais uma pergunta:

           - Mas, caboclo, pelo menos tu sabes ler e escrever?

           - Sei não dotô. Purra, eu su anarfabeto de pai e mãe ...

            - Pois perdeste mais dez anos de tua vida...

             Já eram quarenta anos que o caboclo perdia ...

              Estavam bem no meio do rio .

             Nesse momento, a canoa começou a fazer água rapidamente e mais rapidamente a afundar.

          - Aí o caboclo perguntou para o doutor:

          - Dotô, o senhor sabe nadá?

          - Não... não ... disse o doutor, apavorado.

          - Pois então, dotô, o senhor perdeu a sua vida toda ...!

            E saiu nadando em direção à margem, enquanto o doutor morria afogado, com toda a sua soberba ...
TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO: HISTÓRIAS BRASILEIRAS E PORTUGUESAS PARA CRIANÇAS - WALCYR MONTEIRO E FERNANDO VALE - 2005